Ansiedade: o que é, causas e como controlar
Nos nossos dias, a ansiedade é um tema cada vez mais falado e com o qual cada vez mais pessoas se debatem. A prevalência das Perturbações de Ansiedade regista um aumento no nosso país e no mundo. Fique a saber mais sobre esta perturbação.
O que é?
A ansiedade é uma reação normal à ameaça de perigo e destruição imediata. Há uns milhares de anos, era essencial para a nossa sobrevivência, pois quando confrontados com uma situação de perigo, a ansiedade catapultava-nos para um estado de ativação física e psíquica que nos permitia reagir mais eficientemente às ameaças. Quando estamos ansiosos o nosso coração bate rápido, os nossos músculos ficam tensos, a nossa respiração acelera e até as nossas pupilas dilatam, tudo para estarmos preparados para lutar contra um urso ou fugir de um leão. Atualmente, sofremos outro tipo de ameaças, seja obter uma boa avaliação na escola ou ter um bom desempenho em frente ao chefe. Essa mesma ansiedade permite-nos ficar mais alerta para os erros, ficamos mais rápidos e até a nossa memória parece ter um melhor desempenho. Em quantidades normais e adequadas, a ansiedade tem um efeito protetor, até na forma como encaramos as diferentes situações do dia a dia, pois prepara-nos para os problemas e faz-nos procurar soluções para os ultrapassarmos.
Quando é que ansiedade se torna uma Perturbação de Ansiedade?
Qualquer pessoa pode ter ansiedade ou mesmo uma crise de pânico perante uma situação adversa, sendo que, um evento isolado ou mesmo um curto período de crises de ansiedade não são condições suficientes para considerar que há uma Perturbação de Ansiedade. A distinção entre ansiedade normal e patológica, por vezes, pode não ser clara, mas existem quatro fatores a ter em consideração:
- Quando é grave, ou seja, quando os sintomas são de tal forma exuberantes que não conseguimos cumprir as tarefas e atividades a que nos propomos;
- Quando tem uma duração excessiva, prolongando-se muito além do que seria adequado ou normal para a situação. Por exemplo, é normal ficar ansioso antes de um exame ou antes de ter uma reunião com a chefia, mas é expectável que os níveis de ansiedade vão decrescendo ao longo da situação ou ao longo do dia;
- Quando é inadequada ao contexto, isto é, quando temos ansiedade em situações que anteriormente não teríamos ou em que não é expectável ter ansiedade, como ficar ansioso quando vamos jantar com amigos ou ao cinema;
- Quando tem impacto no nosso funcionamento, interferindo na qualidade de vida, diminuindo a capacidade normal de funcionamento e impedindo de cumprir o nosso potencial.
Sintomas
A ansiedade compreende uma resposta física, cognitiva e emocional, apresentando manifestações muito variadas, que, por vezes, podem ser confundidas com uma patologia cardíaca, respiratória ou mesmo neurológica. Por esse mesmo motivo, temos que nos certificar que não possuímos nenhum outro problema físico que possa ser confundido com ansiedade.
Os sintomas podem ser:
Psicológicos/Cognitivos:
- Sensação de medo intenso e apreensão sem motivo aparente;
- Medo de morrer ou perder o controlo;
- Sensação de tontura ou desmaio;
- Inquietação;
- Diminuição da atenção, que passa a focar mais no medo;
- Estado de alerta permanente;
- Perturbações do sono;
- Irritabilidade.
Físicos:
- Respiração mais acelerada;
- Falta de ar ou sensação que o ar não entra;
- Aumento dos batimentos cardíacos;
- Dor ou sensação de peso no peito;
- Sensação de desmaio;
- Tremores;
- Boca seca;
- Suores frios;
- Dores físicas;
- Dor de cabeça ou enxaquecas.
Comportamentais:
- Alteração da rotina do dia a dia, evitando a ameaça ou os estímulos associados ao perigo.
Quais são as causas?
O que causa a transição de uma ansiedade adaptativa para uma ansiedade “patológica” é algo extensamente investigado e estudado, para o qual não há uma resposta direta. Não nos podemos esquecer que esta se pode manifestar como Perturbação de Ansiedade ou ser uma manifestação secundária, associada a outros sintomas, como na Depressão ou Psicose.
A exposição diária a situações adversas, como pressões a nível profissional, conflitos sociais, dificuldades financeiras, disfunção familiar ou até preocupações com o futuro, vão-nos causando mal-estar e estados de ansiedade recorrentes. Estes estados ansiosos persistentes vão causando modificações cognitivas e físicas, que alteram a própria forma como a ansiedade se manifesta e regula, tornando-nos menos tolerantes a fatores de stress, mais vulneráveis a ter ansiedade e manifestando sintomas cada vez mais exuberantes. Os nossos circuitos neuronais relacionados com o stress passam a atuar de uma forma desregulada.
Tipos de Perturbações de Ansiedade
As Perturbações de Ansiedade distinguem-se pelo padrão de manifestação de ansiedade e pelo motivo que desencadeia os sintomas.
Perturbação de ansiedade generalizada:
Caracteriza-se pela presença constante de sintomas de ansiedade, como estado de alerta e de grande irritabilidade, tensão muscular e alteração de padrão do sono (dificuldade em adormecer e pesadelos), preocupação e receio de forma intensa e excessiva, sem um motivo que o justifique, em relação a diversos aspetos do dia a dia.
Stress pós-traumático:
Trata-se de uma perturbação que é desencadeada por um evento traumático que ocorreu no passado e que expôs a pessoa ao perigo. Qualquer estímulo que reavive esta memória e que pareça colocar o indivíduo em perigo ativa reações inconscientes de rejeição e medo.
Perturbação Obsessiva Compulsiva:
Este tipo de ansiedade manifesta-se nas pessoas através de obsessões recorrentes, como pensamentos intrusivos e comportamentos ou rituais que se repetem de forma compulsiva sem uma razão aparente.
Burnout:
Consiste num esgotamento físico e psicológico, motivado por stress intenso e continuado, desencadeado pela atividade profissional, que deixa a pessoa num elevado estado de exaustão emocional, sem capacidades para realizar o seu trabalho.
Fobias específicas:
Estas fobias destacam-se pelo medo intenso e irracional perante um objeto ou contexto específico. Entre estas fobias, existem alguns sub-tipos:
- Animal;
- Ambiente natural;
- Sangue;
- Situacional (avião, elevadores, espaços fechados).
Perturbação de pânico:
Perturbação de Ansiedade caracterizada pelo aparecimento inesperado de ataques de pânico e pela preocupação constante da sua possibilidade de ocorrência. O ataque de pânico é um período de medo e desconforto intensos, que atinge o seu pico em poucos minutos. É um episódio súbito, que desencadeia uma série de reações físicas que podem simular a dor de um enfarte ou gerar uma sensação de morte iminente.
Os seus sintomas são:
- Sensação de perigo iminente;
- Aumento da frequência cardíaca;
- Sensação de desmaio;
- Dor no peito.
Tratamento
Os tratamentos das Perturbações de Ansiedade envolvem a combinação de psicoterapia com tratamento psicofarmacológico, ou seja, medicação.
Medicação:
Podem ser receitados antidepressivos isoladamente ou em combinação com outros psicofármacos. O uso de tranquilizantes - benzodiazepinas - é frequente, mas por si só não é suficiente para tratar estas perturbações, uma vez que apenas atenua os sintomas temporariamente.
Psicoterapia:
A Psicoterapia é um tratamento que ajuda o doente a identificar e compreender os fatores que desencadeiam a ansiedade e como estes modificam as suas emoções. A psicoterapia ajuda o doente a desenvolver ferramentas psicológicas essenciais para aprender a lidar com as situações causadoras de ansiedade.
Caso identifique algum dos sintomas descritos, não hesite em contactar um profissional. Pode consultar aqui os horários e especialistas disponíveis nas nossas unidades.
Dra. Tânia Silva
Especialista em Psiquiatria
Hospital São Francisco | Leiria
Clínica São Francisco | Alcobaça