A Dependência Digital na Saúde Mental…

09 de Out de 2023
Dependência Digital na Saúde Mental sanfil

As duas últimas décadas têm sido marcadas por um enorme desenvolvimento na área da comunicação e das tecnologias (internet, televisão, smartphones, tablets e computadores). A emancipação das novas tecnologias veio revolucionar e impactar o nosso dia-a-dia, alterando as nossas vidas de inúmeras formas ao permitirem uma célere e melhor comunicação, acessibilidade à informação, lazer, educação, etc.

Apesar de existirem, inegavelmente, aspetos positivos com este desenvolvimento tecnológico, não podemos deixar de salientar os negativos e as consequências dele advindas para a saúde mental nas nossas crianças/adolescentes as quais, muitas das vezes, se estendem para a adultícia.

De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, uma adição apresenta-se como uma doença cerebral que se manifesta pelo uso compulsivo/abusivo de substâncias. Habitualmente, os comportamentos aditivos estão associados a algo que, num primeiro momento, proporciona uma sensação de bem-estar e, como tal, torna-se algo desejável para o sujeito. Porém, a perda de controlo e a dependência impulsionam-no/transportam-no para o campo do vício/adição.  

As tecnologias comprometem o bom desenvolvimento cognitivo e da linguagem, colocam em causa o bom desempenho escolar, comprometem o desenvolvimento da linguagem, da motricidade global e fina, limitam a interação social, potenciam o cyberbullying, assim como contribuem para alterações ao nível do funcionamento executivo (défice de atenção), do comportamento - perturbações de oposição e desafio, fúrias e birras severas que, no limite, podem conduzir à instauração de situações jurídicas complexas.  

Concomitantemente, as adições digitais podem potenciar quadros de distúrbio do sono, dado que a exposição exagerada aos ecrãs levam a uma diminuição da melatonina no nosso cérebro, o que justifica que deva ser evitada a exposição aos ecrãs uma hora antes da estipulada para se ir para a cama; perturbações alimentares (obesidade infantil, etc); nomofobia (angústia e medo de ficar sem um aparelho de comunicação móvel); entre muitas outras severas implicações na saúde física e mental do individuo e da tranquilidade familiar com quem o mesmo coabita.

As intervenções e soluções podem passar por uma série de medidas, as quais visam ajudar a reduzir esta grave problemática, como por exemplo: a boa educação digital - utilização responsável monitorizada pelos pais e/ou educadores; a envolvência da escola e da sociedade na dita educação digital; promoção de atividades ao ar livre; a implementação de softwares de controlo parental; a comunicação e a escuta ativa e sem julgamento dos menores - disponibilizar o tão precioso tempo que nos dias de hoje é extremamente escasso, etc.

Por último, se os menores ou adultos em questão padecerem desta dependência tecnológica e não conseguirem ultrapassar a mesma, deverá ser ponderado o recurso a especialistas em saúde mental o quanto antes. O tempo será o nosso melhor aliado tanto para o paciente como para tutores e famílias!


Dr Alexandre Pena
Alexandre Pena, CP- 456

Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Especialista em Psicologia da Justiça
Clínica São Francisco | Pombal

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