A Dependência Digital na Saúde Mental…
As duas últimas décadas têm sido marcadas por um enorme desenvolvimento na área da comunicação e das tecnologias (internet, televisão, smartphones, tablets e computadores). A emancipação das novas tecnologias veio revolucionar e impactar o nosso dia-a-dia, alterando as nossas vidas de inúmeras formas ao permitirem uma célere e melhor comunicação, acessibilidade à informação, lazer, educação, etc.
Apesar de existirem, inegavelmente, aspetos positivos com este desenvolvimento tecnológico, não podemos deixar de salientar os negativos e as consequências dele advindas para a saúde mental nas nossas crianças/adolescentes as quais, muitas das vezes, se estendem para a adultícia.
De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, uma adição apresenta-se como uma doença cerebral que se manifesta pelo uso compulsivo/abusivo de substâncias. Habitualmente, os comportamentos aditivos estão associados a algo que, num primeiro momento, proporciona uma sensação de bem-estar e, como tal, torna-se algo desejável para o sujeito. Porém, a perda de controlo e a dependência impulsionam-no/transportam-no para o campo do vício/adição.
As tecnologias comprometem o bom desenvolvimento cognitivo e da linguagem, colocam em causa o bom desempenho escolar, comprometem o desenvolvimento da linguagem, da motricidade global e fina, limitam a interação social, potenciam o cyberbullying, assim como contribuem para alterações ao nível do funcionamento executivo (défice de atenção), do comportamento - perturbações de oposição e desafio, fúrias e birras severas que, no limite, podem conduzir à instauração de situações jurídicas complexas.
Concomitantemente, as adições digitais podem potenciar quadros de distúrbio do sono, dado que a exposição exagerada aos ecrãs levam a uma diminuição da melatonina no nosso cérebro, o que justifica que deva ser evitada a exposição aos ecrãs uma hora antes da estipulada para se ir para a cama; perturbações alimentares (obesidade infantil, etc); nomofobia (angústia e medo de ficar sem um aparelho de comunicação móvel); entre muitas outras severas implicações na saúde física e mental do individuo e da tranquilidade familiar com quem o mesmo coabita.
As intervenções e soluções podem passar por uma série de medidas, as quais visam ajudar a reduzir esta grave problemática, como por exemplo: a boa educação digital - utilização responsável monitorizada pelos pais e/ou educadores; a envolvência da escola e da sociedade na dita educação digital; promoção de atividades ao ar livre; a implementação de softwares de controlo parental; a comunicação e a escuta ativa e sem julgamento dos menores - disponibilizar o tão precioso tempo que nos dias de hoje é extremamente escasso, etc.
Por último, se os menores ou adultos em questão padecerem desta dependência tecnológica e não conseguirem ultrapassar a mesma, deverá ser ponderado o recurso a especialistas em saúde mental o quanto antes. O tempo será o nosso melhor aliado tanto para o paciente como para tutores e famílias!
Alexandre Pena, CP- 456
Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Especialista em Psicologia da Justiça
Clínica São Francisco | Pombal